domingo, 24 de janeiro de 2010

De escrever com dor


Essa terceira página foi, quando impressa e publicada n´A Voz da Serra, um motivo de apreensão para mim. O poema sexual, escrito por mim, que a acompanha é tão explicito que, infelizmente, quase todos que vieram comentar comigo sobre esta página, estava muito mais interessados em expressar seu descontentamento com palavras bestas e comuns como “meter” e “gozar”, do que falar sobre o conflito de sentimentos presente na barafunda de pensamentos da personagem, seu complexo bailar entre o amor e ódio. Se me perguntarem, direi que estou longe do mau gosto (ainda que tenha uma bela duma tendência ao escatológico e tudo quant´é nojeira), mas não creio que esse poema seja tão ruim ou de mau tom. Acho apenas que ele expõe algo muito comum a todos que se aventurem em algum duelo amoroso, e que por isso é preferível tachá-lo de ruim.

Méritos literários deixados de lado, o fato é que as reações a essa página foram tão adversas, que me fizeram mudar o cronograma original, retirando outras duas páginas em que os personagens transavam, se amavam e odiavam, e dando um novo final à história (puxando duas páginas de um outro modo de leitura). Creio até que foi vantajoso. Arranquei da história, com esse medo de ter a publicação “censurada”, duas páginas e coloquei outras duas que mudaram o tom da trama, me apresentaram um novo caminho, de redenção, não só para os personagens, mas para mim. E, gosto de pensar, que algumas pessoas que acompanharam o desenvolvimento desta minha maluquice, também se beneficiarão desta história.

Falando nisso, e para dar o tom que o título desse post pede, admito que, mais do que possa parecer, essa história se manifestou para diferentes pessoas com sentimentos bem parecidos. Quase todo mundo que leu se mostrou bem incomodado com o clima constante de desespero que parece se apossar dos personagens nesses momentos engaiolados de cada página (Pássaros Artificiais, sacaram?). De fato, como encerrei o post anterior, admito que muito do que escrevi até este momento, foi movido pela dor e por uma garganta que não cessava de engasgar e dar vazão a choros incontroláveis.

Acho que mudei. Ainda escrevo sobre dor, meus amigos. Cá do meu jeito confuso, vertiginoso, que tanto me agrada, mas não carrego mais tanto desse sentimento ofuscante e pesado. Em outro post, mais adiante, explicarei o processo mágico que adotei em relação a essa história, para que as páginas cessassem de me esfaquear e começassem a me oferecer flores. Por enquanto, digo apenas que David Lynch me ensinou uma lição preciosa no livro Em águas profundas, que ele lançou uns dois anos atrás. O diretor de Veludo Azul diz que a dor pouco é dos motivos que nos fazem seguir ou criar. A dor só faz doer. Escrever sobre a dor, não é necessariamente sentir dor, é buscar criar conforto, é oferecer iluminação pelo caminho mais difícil, porque, infelizmente, é o caminho pelo qual a maioria anda optando por seguir.

Nessa eu vou com Lynch e Alejandro Jodorowsky. Vamos criar para sanar, minha gente! Vamos criar para oferecer paz, mesmo que atravessando um mar de bosta.

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Por alguma botoquice do Blogger, hoje foi um sufoco pra colocar uma página no ar. Clique no link presente no texto para visualizar a terceira página em formato maior, e não na própria página, como nos posts anteriores.

2 comentários:

  1. Puta merda!!!
    É como quis começar esse tópico, é com aquilo que muita gente chama de palavrão.

    Pra mim uma pessoa que passa os dias sem soltar uns dois ou três desses acaba guardando as pequenas amarguras do dia.

    Sem contar que perde em expressividade, em espontaneidade. Ou alguém vai dizer que quando vc dá aquela topada com o dedão do pé esquerdo não se sente melhor só de dizer um Puta que o pariu!? Quando se está fazendo sexo então!!!

    Como escreveu Cazuza: "Pra que mentir!? Fingir que perdoou!?"

    Ah! Aproveito pra me retificar "Alas" até onde eu sei tá mais pra saudação do que pra despedida!

    O trabalho é incrível, maravilhoso. Parabéns aos dois!!!

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  2. puts, qnd eu clico aparece pequena a página, se eu dou o zoom embassa tudo....n consegui ler. :(

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