quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

O mundo de Cristina


quede as flores e os mingaus?
É de se esperar uma vida agradável no campo, principalmente a essa altura, em que agradável é sinônimo de arrastar-se pela grama, cada vez mais conhecida, grama minha, buscar o escapável pôr-do-sol, perder-me entre as raízes, conhecendo a grama de todo o quintal, observando-a crescer, bulbo por bulbo através dos buracos da terra que deforma minha forma já disforme, molda-me à resistência daqueles que sofreram e sofrem, faz de mim a santa que não sou aos olhos dos outros – pintam-me, imortalizam minha dor sem conhecê-la e pensam compreende-la como quem compreende que o desejo que brota é infeliz porque se distancia do outro desejo de outrem que sentindo-se mal amado, despeja cores numa tela até expurgar toda a maldição, espalhando-a (a dor) aos quatro ventos, torcendo para que se vá, se vá, enfim. E mal consegue distinguir-se da pintura, agora, perde-se calmamente, com uma falsa serenidade, outro desejo a explodir, toda a dor a se derramar – o não querer ó, o não amar, o se perder, cavando o que não se conhece, porque não está lá, não está lá, não é capaz de sujar as mãos de terra, não pode verificar sob as unhas e ver toda a história toda a casca, toda a maçã mordida – a maçã que contém todo o cosmos, vinda da árvore gêmea. Conhecimento e vida destacavam-se, proibidas no paraíso.
Arrasto-me sobre a grama, sem imaginar-me velha, apenas conhecendo o instante arrasto-me, conhecendo a grama que me deforma, que me forma, que me faz viva.

Nenhum comentário:

Postar um comentário