quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

As frestas do tempo


Pássaros Artificiais, me parece, está sendo uma história difícil de ser digerida por uma boa parcela das pessoas que se aventuram a lê-la. Com exceção de páginas como a em que os personagens aparecem fazendo sexo, ou a do episódio do bebê morto, as reações obtidas, quase sempre, tem sido de desentendimento quanto ao que a história pretende contar. Sinceramente, não entendo tantas interrogações.
A história, admito, não se propõe a fácil digestão. No entanto, isso é muito mais pelo seu tema principal, que é, por sua vez, muito simples: avô morre, garota volta pra casa e tem de lidar com todas as coisas ruins do seu passado, enquanto lida com as dores do presente.
Tem muito filme da Sessão da Tarde e do Super Cine que trazem temáticas semelhantes e todo mundo assiste até o fim, mesmo que seja para dizer que é uma porcaria de história. E, talvez, seja mesmo.
Tenho como protagonistas desta história, pessoas ordinárias, sem nada demais, sem grandes atrativos que não o de estarem vivos, lidando com todas as complexas afeições e degenerativas cargas emocionais que todos nós trazemos. Se há algo de fantástico, espetacular, mágico na trama, ela está no fato de que o tempo, para os personagens, é mutável, não só pelos desvãos de suas memórias, mas pela vontade do leitor, que os conduz através do espaço-tempo de acordo com sua vontade.
É isso, meus amigos. Enquanto olharem as páginas numa velocidade pusilânime, tudo o que terão são personagens emaranhados em cenas, quando devem tratá-los como criaturas passíveis de mudanças. Entendam isso: o poder é de vocês. Caminhem como quiserem, entendam o que quiser. Basta que criem algo mais que as dificuldades do espaço e do tempo, retirem esses véus limitadores que lhes prendem.
E leiam a história, e todas as histórias, com os olhos de um deus novo e com ouro correndo nas veias.

Nenhum comentário:

Postar um comentário