quarta-feira, 31 de março de 2010

Prosa do observatório


Essa hora que pode chegar alguma vez fora de toda hora, buraco na rede do tempo,
essa maneira de estar entre, não por cima ou atrás, mas entre,
essa hora orifício em que se acha acesso ao abrigo das outras horas, da incontável vida com suas horas de frente e de lado, seu tempo para cada coisa, suas coisas no preciso tempo

Isto é Julio Cortázar, retirado logo das primeiras linhas do volume que, homônimo ao título deste post, traz ainda uma série de fotografias batidas pelo próprio Cronópio.
O tempo é algo que se encontra em segundo plano nestes meus Pássaros Artificiais: cada um dos personagens está tão livre das amarras do tempo e do espaço, que só lhes resta passear entre as camadas, observar seus tormentos, suas prisões, suas gaiolas - é como se estivessem perdidos num quadro de Escher, várias cópias deles mesmos se cruzando nas escadas, correndo em todas as direções, aflitos, querendo chegar a algum lugar.
Com sorte, o leitor pode se identificar e, com mais sorte ainda, se lançar na mesma escadaria. Mas, por favor, não me acusem de buscar alguma coisa. Muito menos uma resposta.

Um comentário:

  1. Tá, carai, estou tentando acompanhar seu raciocínio, mas sometimes é como ler Kundera e Fernando Abreu. Quanto ao Cortázar, ler qualquer coisa e me sinto uma esperança,bolhas borbulham, palavras flutuam saem do lugar numa direção certa e eu sou a borbulhação que isso causa e ninguém percebe, sinto saudades dele. O que me recomenda dele, para que possa obter? Preciso de uma literatura sem humor negro e sem sentimentalismo e romantismo, estou saindo dessa, terrível. Sinto saudades dele porque quando com ele podia ser um cronópio dançando trégua-catala-espera na frente do armazém, ou então posso colecionar meus insetos envolta da lâmpada sem me sentir incomodada com isso e com a falta de sono e em não conseguir ler mais de 50 páginas não sendo na escola.

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